A reciclagem do plástico é uma farsa?
Em aproximadamente 100 anos desde o começo da sua produção em escala industrial, já há mais plástico nos oceanos do que peixes. A produção de plástico segue desenfreada. Uma das soluções vendidas como a “solução” para o plástico, é a reciclagem, mas será mesmo que é uma solução real, ou é apenas uma transferência de responsabilidade para o consumidor final?
A transferência de responsabilidade com a geração de resíduos é desleal, já que nós não temos informações suficientes sobre a reciclagem. Como funciona? Quais tipos de plástico se recicla? Qual é a porcentagem que realmente retorna ao ciclo industrial? Se todas essas perguntas forem feitas e não soubermos responder, então, porque nós somos os responsáveis para dar um fim correto ao plástico?
E onde fica o papel da indústria que produz esse plástico? E a outra grande parte que utiliza o plástico em suas embalagens? Não se responsabilizam? Não cabe a elas ações de recolhimento e destinação correta desses resíduos? Ou a recolocação desses materiais na cadeia produtiva? Para a indústria e comércio fica o bônus de produzir sem responsabilidades e acumular capital com o uso de plástico indiscriminado, e à nós o ônus de “destinar corretamente” nossos plásticos pós-consumo.
É costume vermos nas embalagens símbolos que indicam que aquele pacote ou recipiente é reciclável, porém não são todos os plásticos (mesmo com esse símbolo) que se reciclam.
É bom lembrarmos que o plástico convencional é um produto derivado do petróleo, que por sua vez é uma matéria prima não renovável e altamente poluente. Plásticos são resultado do processo de polimerização, que une monômeros, que são pequenas cadeias de Carbono, a fim de formar grandes cadeias de polímeros.
Polímeros são cadeias longas de Carbono, que costumam não se degradar com facilidade no meio ambiente, normalmente se desmancham em partículas menores, as quais podem soltar substâncias cancerígenas. Na natureza é possível encontrar polímeros naturais, tais como algodão, madeira, cabelos, látex, entre outros, são comuns em plantas e animais, mas ainda não são utilizados em larga escala, pois são mais caros na hora de produzir em escala industrial.
Todos os plásticos são recicláveis?
1. PET (Tereftalato de Polietileno)
O PET é um dos plásticos mais comuns, usado na produção de frascos e garrafas para bebidas e alimentos, como as garrafas de refrigerante e água, além de embalagens de medicamentos e cosméticos, por impedir que o oxigênio entre em contato com o produto interno.
Como a grande maioria dos plásticos, o PET é feito a partir do petróleo, quando misturado a outros tipos de materiais, como fibras de algodão, torna-se inviável para reciclagem.
2. PEAD (Polietileno de Alta Densidade)
O PEAD costuma ser utilizado para fabricação de tampas e embalagens, como é o caso dos frascos de amaciantes, alvejantes, shampoos, detergentes e óleos automotivos; bem como, sacolas de supermercados, potes e utilidades domésticas.
Por suas características físicas como, rigidez, resistência química e a baixas temperaturas é muito utilizado. Pode ser obtido a partir do petróleo ou de fontes vegetais, nesse último caso, temos o chamado plástico verde.
3. PVC (Policloreto de Vinila)
O PVC é formado por 57% de cloro e 43% de eteno, derivado do petróleo. Tem como característica ser mais rígido, impermeável e de difícil quebra, suportando altas pressões.
Popularmente conhecido por seu uso na construção civil, em tubulações de água e esgoto, mas também é encontrado em embalagens como as de óleos comestíveis, água mineral e potes de maionese. Além disso, é bastante utilizado em produtos mais resistentes, como cones de sinalização, calhas e até mesmo brinquedos.
O plástico PVC até pode ser separado e reciclável, porém é um dos que apresenta maior dificuldade quando chega aos centros de triagem.
4. PEBD (Polietileno de Baixa Densidade)
É um tipo de plástico muito utilizado por ser flexível, leve, transparente e impermeável. Usado para fabricar sacolas de supermercados e lojas, embalagens de leite e outros alimentos, como pães, frios e embutidos, bem como sacos de lixo e materiais hospitalares. Sua decomposição é extremamente lenta e é um material de reciclagem complexa que normalmente não interessa às cooperativas.
Pode ser obtido a partir do petróleo ou de fontes vegetais, como a celulose, neste último caso chamado de celofane, uma ótima alternativa, uma vez que ele se dissolve na água.
5. PP (Polipropileno)
É o segundo plástico commodities mais fabricado e há mercado para crescer nos próximos anos. Por suas características que incluem dureza, o que o torna difícil de quebrar, resistência à altas temperaturas é utilizado em peças automotivas, coletes térmicos, potes de laticínios, seringas descartáveis e até fraldas descartáveis.
6. PS (Poliestireno)
É obtido através da polimerização do estireno, uma resina barata e fácil de criar. Por ser um material barato e frágil, é muito usado na fabricação de produtos descartáveis ou que necessitam de alta transparência.
É aplicado em potes de embalagens em geral, tampas, copos descartáveis, brinquedos, isolamento, talheres descartáveis, etc. Talvez mais conhecido por seu nome comercial, o isopor é muito inflamável e perigoso, pois quando aquecido pode soltar produtos químicos nocivos. Ambientalmente, está entre os plásticos mais difíceis de lidar, primeiro que ele não é biodegradável e segundo, por ser extremamente leve, ele pode ser levado pelo vento e também flutuar na água. Os animais se confundem e acabam ingerindo, causando graves danos à saúde das aves ou animais marinhos.
Ainda que a separação do isopor seja feita corretamente para ser reciclado, ele pode não ser reaproveitado. Na cadeia de reciclagem, os materiais são comercializados com base no seu peso. E para conseguir um peso relevante de isopor é necessário um volume enorme desse material, ou depender de um maquinário que faça o processamento desse tipo de resíduo, transformando-o em uma massa plástica com peso suficiente para pesagem.
7. Outros
Os plásticos mais conhecidos desse grupo são os policarbonatos (PC) usados para construir produtos fortes e resistentes. É comum serem usados na proteção dos olhos, na criação de lentes para óculos de sol, esportes e óculos de segurança. Mas também podem ser encontrados em celulares e nos, quase, extintos compact-discs (CD).
Esse tipo de plástico é considerado rejeito, ou seja, é destinado aos aterros sanitários, não é possível ser reciclado. Além disso, é um plástico que pode prejudicar a saúde, por soltar Bisfenol A (BPA), pesquisas comprovam que a presença de BPA no organismo está associada a doenças cardiovasculares e diabetes.
Manual de Preparação de Resíduos Plásticos para Reciclagem e Descarte Adequado
Separe os plásticos adequadamente: Antes de começar, certifique-se de que os plásticos estão limpos e secos. Separe-os por tipo, como PET (garrafas de água e refrigerante), PEAD (frascos de detergentes e produtos de limpeza), PVC (tubos e sacolas plásticas), entre outros.
Remova rótulos e etiquetas: Retire rótulos de papel, adesivos e etiquetas dos plásticos, pois esses materiais podem interferir no processo de reciclagem.
Reduza o volume: Se os plásticos ocupam muito espaço, como embalagens de alimentos e sacolas, é recomendável compactá-los. Isso economiza espaço de armazenamento e facilita o transporte para os centros de reciclagem.
Evite contaminação: Não misture plásticos com outros materiais, como vidro, metal ou papel, pois isso pode prejudicar a reciclabilidade. Certifique-se de que os plásticos estejam livres de restos de alimentos ou líquidos.
Consulte os locais de coleta: Informe-se sobre os pontos de coleta de recicláveis em sua região. Muitas comunidades têm programas de reciclagem que aceitam diversos tipos de plástico. Verifique se há locais específicos para diferentes tipos de plástico ou se há necessidade de separação prévia.
Descarte adequado: Caso não haja possibilidade de reciclagem, descarte os plásticos de maneira responsável. Evite jogá-los no lixo comum ou no meio ambiente. Verifique se existem programas de coleta seletiva ou pontos de descarte apropriados em sua cidade.
Informações adicionais: Esteja ciente das políticas de reciclagem e disposição de resíduos em sua região. Algumas comunidades podem ter regras específicas sobre a coleta e o descarte de plásticos.
Promova a conscientização: Compartilhe essas práticas com amigos, familiares e colegas para promover a conscientização sobre a importância da reciclagem e do descarte adequado de plásticos. Pequenas ações individuais podem fazer uma grande diferença para o meio ambiente.
Tantos requisitos dificultam a efetividade da cadeia de reciclagem do plástico. Além disso tem diversos outros processos que dificultam a reciclagem, como por exemplo o caso de embalagens de composição mista (papel e plástico juntos)
Precisamos ter em mente que nenhum plástico é realmente biodegradável, o significado atrelado ao “biodegradável” é que esse plástico se quebra em partículas plásticas cada vez menores, gerando milhões de micro-plásticos. Por serem partículas muito pequenas, em alguns casos até microscópicas, elas acabam sendo ingeridas pela fauna marinha, em peixes, crustáceos, e assim por diante, se bioacumulando ao longo da cadeia alimentar, e nós, seres humanos, também ingerimos micro-plástico ao comermos esse animais.
O grande problema é que essas pequenas partículas plásticas podem liberar substâncias tóxicas, que podem se acumular no organismo e causar diversas doenças.
Espero que tenham tido uma visão mais ampla do problema que é o plástico, assim consuma de forma consciente, mas para além disso que possa cobrar da indústria um posicionamento mais afirmativo quanto a redução de resíduos e também questionar o Governo quanto às medidas de redução de plástico. Fica nítido que a responsabilidade de reciclagem é da indústria, que gera problemas e nós temos que dar um fim “correto”.
No TikTok possui um perfil dedicado a explicar o processo de reciclagem da perspectiva de catadores da cooperativa Cataki, o @catakiapp para quem quiser entender melhor e saber mais sobre reciclagem.
Juliana Thomaz, redatora da Gaia Cosméticos, estudante de Comunicação e Multimeios UEM